As estreias de Isis

A atriz de 22 anos, que vive Camila na novela Caminho das Índias, está numa fase bem interessante. Não é uma menina sem objetivos, mas também não é dona de verdades absolutas. Está naquele momento de descobertas e de assumir riscos, de errar e acertar



A atriz de 22 anos, que vive Camila na novela Caminho das Índias, está numa fase bem interessante. Não é uma menina sem objetivos, mas também não é dona de verdades absolutas. Está naquele momento de descobertas e de assumir riscos, de errar e acertar
O tempo passou mais rápido que uma mensagem no Twitter para Isis Valverde. Quando soube que ia encontrá-la, imaginei que dividiria o sofá com uma menina espevitada, de saias curtas e botas coloridas. Uma versão real da Rakelli, a manicure da novela Beleza pura, de 2008, seu papel de maior destaque na Globo até o momento. Surgiu uma mulher centrada, de bata preta, com sandália baixa, repleta de pausas entre as frases. Na minha frente, estava a destemida e discreta Camila, que Isis vive em Caminho das Índias. Sem perfume, trazia um creme Victoria's Secret na pele. E duas tatuagens. A terceira faria dias depois, um trecho do Salmo 23: 'O senhor é meu pastor'.


Não é religiosa, mas está no auge da inquietação dos 22 anos. É fã de Clarice Lispector, se interessa por Carl Jung, o discípulo de Freud, por Iemanjá, por anjos e tem um especial apego ao tal Salmo. Quer estar por dentro de tudo, embora não goste de ler jornal com regularidade porque 'tem muita desgraça'. Mas deu um jeito de aplacar a curiosidade: 'Tenho um professor particular com quem estudo filosofia e coisas sobre o mundo. Falta isso entre os jovens', diz.

É fase de mudanças. Até no corpo. Descobriu há dois anos que tem intolerância a glúten num exame solicitado por sua dermatologista. Não pode mais comer pães nem massas. Tem de ler rótulos, saber como a comida foi preparada, e deixou de tomar Toddynho, uma de suas bebidas favoritas.

Também descobriu que o reconhecimento como atriz-revelação do ano passado por causa de Rakelli (que garantiu prêmios como o de Melhor Atriz Coadjuvante do programa Domingão do Faustão) a lançaria ao desafio de viver Camila - uma personagem que cresce a cada dia na novela. Isso a fez entender que não poderia mais levar sua vida amorosa na retranca, com discrição tipicamente mineira. Todo mundo ficou sabendo quando ela começou e terminou o namoro com o ator Marcelo Farias (dez meses depois, no mês passado), um dos três relacionamentos longos que teve. Parece que Isis estreou na vida. 'Eu entendo o Tarso [interpretado por Bruno Gagliasso em Caminho das Índias]. Esse personagem está permitindo que as pessoas de classe média reflitam sobre a opressão do mundo. Sinto isso quando saio de casa, da minha redoma de vidro. O mundo é um mundo.'

'Nós seremos o futuro, cara.
Eu vejo que os jovens estão muito vazios
porque eles não têm nada para agregar '

As descobertas estão indo além da filosofia. Antes da Globo, Isis nem tinha passaporte. Foi para a Índia, 'pirou' em Nova Délhi, onde ficou um mês no ano passado. No segundo semestre, quando acabar a novela, pretende sair do Brasil de novo. Passará seis meses em Nova York, estudando inglês e interpretação. 'Sempre tive vontade de ir embora de casa. O mundo é muito grande.' E
Aiuruoca, cidade de seis mil habitantes onde nasceu, muito pequena.
Filha única de um bioquímico e uma servidora pública, voltou-se para as artes. A mãe foi atriz cômica, um tio escreve poemas, a avó tocava piano, e Isis começou a frequentar palco e camarins aos cinco anos, estreando como atriz ainda criança. Mas teve uma infância típica de menina do interior. 'Adorava morar lá. Meu divertimento era correr com meus amigos até a praça para deitar no chão e olhar para o céu.'
Deixou tudo isso para trás quando, aos 15 anos, mudou-se sozinha para estudar na capital, num apartamento alugado pelo pai. 'Tive de virar adulta, ter malícia. Pagar sozinha contas de luz, de gás.' Pouco tempo depois, Isis cruzou com um olheiro num shopping, virou modelo e se mudou de novo, desta vez para o Rio. Foi estudar na famosa escola Tablado, que já formou gente como Malu Mader, Andréa Beltrão e Cláudia Abreu. 'Comecei a fazer testes. Sei que faz parte do jogo, mas odeio competir. Não gosto de sorteio, de teste. Sempre peço para chamarem de outra coisa [quando vai a um teste]. Peço para dizerem que é um vídeo para recordação. Cada um tem sua qualidade [como ator]. Ninguém é clone de ninguém.' Nesse momento, Isis ri. Daqueles risos que deveriam ter seguro, de tão gostosos.
A grande chance veio com a personagem Ana do Véu, da novela Sinhá moça, que passou há três anos, às 18 horas. 'A Rakelli era solar, a Ana, solar encoberta, a Camila, mimada.' Uma curiosidade sobre Isis é que ela trata as personagens como se fossem reais e, eventualmente, as incorpora. Ela explica, por exemplo, que Rakelli, quando nervosa, contava os fios do cabelo. Camila põe os cabelos para trás das orelhas. E Ana do Véu, mexe as mãos em busca de respostas. E a Isis? Depende. Foi daí que ela recuou diante de alguns temas controvertidos (leia abaixo).
Isis e seus princípios
Qualidade das novelas
'Não tenho o que falar. Acho que os personagens poderiam ser mais bem explorados, mas não é meu trabalho.'

Virgindade
'É ridículo [isso ser tabu]. É a espera de estar pronta. Não é uma assombração.' E a primeira vez da Isis? 'Isso é muito íntimo. Nem se você fosse meu amigo eu contaria.'

Aborto
'Depende de como essa criança foi gerada. Das circunstâncias.'

Sobre a separação com Marcelo Farias, com quem estava praticamente casada 'Não quero falar sobre isso.'

Namorar famoso é diferente?
'Marcelo já tava na mídia. Deve ser penoso para quem não é um artista namorar uma atriz. É como se fosse um BBB. Tem gente que surta.'

Vaidade de artista
'Às vezes preferia que ninguém me reconhecesse. Mas ator sem plateia não existe. Não acho que ator é exibicionista. Eu mesma não sou. Pego a última mesa do restaurante.' A propósito, ela diz que não fuma e só bebe vinho. Socialmente.

Paparazzi
'O Leblon [bairro do Rio] tá um inferno. Tento respeitar o trabalho deles. Sou até amiga de alguns. Mas tem gente que não tem ética.'

Sucesso
'O sucesso não me subiu à cabeça. Mas a pressão e a cobrança estão maiores. O que assusta mesmo é o barulho do silêncio. Por isso a gente tem de ter amor [no que faz]. Até as dificuldades existem para nos ensinar algumas coisas. Se eu deixar que o medo tome conta, não vou conseguir trabalhar. Sei que é uma pressão para eu crescer.'

Fonte: Revista Marie Claire


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