É chegada a hora do Fim!





"Hoje o estúdio C parecia mais silencioso. As nossas camareiras, os nossos contrarregras estavam visivelmente mais introspectivos e as roupas indianas me caíram de uma maneira muito particular - diferente, distante. O estúdio sempre teve um cheiro de fábrica de sonhos para mim, de fantasia, mágico.
Entrei pela porta grossa de aço, passei pelo homem de terno preto e caminhei metros até a casa de Opash, que me pareceu também grande demais. Pareciam que todos aqueles artistas que estavam presentes comigo, grandes veteranos, estavam vagando em um lugar que se diluía novamente em contos, pequenas partículas de histórias que já tinham chegando ao seu fim. O fim do famoso e esperado feliz para sempre. Grandes colegas que me enriqueceram na minha profissão e na alma - obrigada.
Confesso que me senti só, sem a companhia de Chanti; os desmaios de Indira; a grande confiança de Maya; o severo sogro Opash; a 'naja' da Surya; a difícil Laksmi; o fofo do seu Chacha; a dancinha das crianças; a manipulada Durga e o grande amor de Ravi. Ai que saudade da minha Índia! Aquela solidão veio acompanhada da notícia que eu havia evitado: chegou mesmo o fim do caminho, o fim, Glória Perez, que vai deixar saudade em mim e, com certeza, em meus colegas.
Na última cena, atrás de uma porta branca, eu me enconstei com os meus olhos já paralisados, que minunciosamente observavam o cenário, esperando o 'gravando', de Marcos Schechtman. Me olhei no espelho indiano, que estava sutilmente preso na parede do corredor onde muitas coisas começaram e acabaram e, por que não, onde transitaram sem desfecho. Ali, naquele espelho, vi uma menina de 18 anos, enrolada em um sári, grávida, e que também me avisa que partia - eu sei lá para onde, talvez para o céu dos personagens.
Eu sei que naquele momento, me despedi de uma obra que marcou a minha vida e a de todos nós, que acompanhamos essas histórias de amores impossíveis, golpes, declarações e outras milhares de situações que nos prenderam e nos fizeram apaixonar. E ao final de todas as cenas, todos nós nos reunimos para a despedida do lindo filme da vida, que foi rodado bem ali, naquela casa. Chorei como uma menina, que é deixada sozinha em um caminho sem fim, mas que nunca parará de caminhar atrás de outras fábulas que estão ansiosas para ganhar vida. Obrigada por tudo."."

Texto de Isis Valverde

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